O Pai do Rock , Raul Seixas, e sua amiga Escritora Maria Nívea Cerqueira
E SUA AMIGA NIVIA MARIA EMOCIONADA, FAZ UMA HOMENAGEM AO AMIGO TÃO QUERIDO,
CONTANDO MOMENTO DE PURA ALEGRIA QUE JUNTOS COMPARTILHARAM.
Capitulo I
Meu encontro com Raul Seixas, Meu livro vivo
Acho que como a maioria naquela época minha mãe procurava um diagnóstico, tinha que ter uma resposta plausível para uma menina tão pequena entender tudo que os adultos falavam e escrevia coisas tão profundas.
Depois de tantos psicólogos veio o diagnostico de hiperatividade. Eu não queria saber.
Aos dez anos foi me dado um livro do Augusto dos Anjos e tudo em mim era mais intrigante. Eu precisava de alguém que me entendesse
já havia muitas poesias em meu caderno e não parava de procurar respostas.
Cadê esse Deus? O começo da minha adolescência era só medo! Eu não queria falar com ninguém! Eu queria ficar com meus pensamentos! Freqüentava as melhores escolas de são Paulo, nunca concordei com o regime educacional.
Isso me oprimia? Mas ninguém me explicava e só ouvia que era uma criança diferente. Sem muitos rodeios tudo foi caminhando assim.
Tinha um espírito de liderança que atraia muito amigos
Ate que um dia fiquei num mergulho sem volta um amigo me disse que havia uma musica que tinha sido feita para mim.
Ouvi Raul seixas pela primeira vez o nome da musica era eu sou egoísta quando ouvi na musica. Provo sempre o vinagre e o vinho, eu quero é ter tentação no caminho, pois o homem é o exercício que faz.
Eu escrevi no meu caderno. O homem é o exercício que faz a compreensão disso não era total ainda era uma criança, mas não parei de pensar mais naquilo passei três dias ouvindo a musica e decidi saber.
Quem era esse Raul seixas. Ai me encontrei mais uma vez em metamorfose ambulante. Por que tinha que ter aquela velha opinião formada sobre tudo? Por quê? Eu só queria ser eu mesma.
Mas incomodava meus pais. Decidi procurar por discos de Raul seixas estava conversando com alguém cada vez que conhecia outra musica dele! Ouro de tolo marcou minha vida.
Não! Não posso esperar a morte chegar assim quieta sem dizer nada! Quem disse que queria morrer? Quem inventou essa historia? E na musica havia a resposta.
Conversava com as musicas dele então e chegaram os doentes anos 80 estava me encontrando, já não estava mais só, morava no edifício sobradão na rua bela Cintra quando começou a rolar a noticia de que Raul seixas mudaria para lá. Meu Deus tinha que fazer alguma coisa antes dele chegar.
Nessa época já estava me aprofundando em sociedade alternativa! E achava aquilo magnífico, pois se eu quero e você quer então vá.
Nossa mais o livro da lei foi o que eu sempre pensei nada mais era, viva e deixe viver! Não estava sonhando! A única pessoa que me compreendia seria meu vizinho? Precisava fazer alguma coisa.
Capitulo 2
Só o que me lembrava era que ele havia olhado em minha direção, depois abaixou a cabeça e seguiu. Essa visão me atormentara a noite.
Dia seguinte sempre a mesma coisa. Mas não admitia falta de coragem para nada, lutava com esse antagonismo sempre. O medo e a coragem em quanto Raul falava na minha cabeça durante a aula: coragem, coragem se o que você quer é aquilo que pensa e que faz.
Coragem que eu sei que você pode mais! Exato, podia muito mais. Passei a aula absorta. Chegara a hora de voltar, será? Descia novamente a rua bela Cintra quando deparei com a mesma imagem descendo em rumo à tiete: Raul com sua jaqueta de couro e sua bota, igualzinho ao dia anterior.
Coragem. Vai e grita que você esta certa. Encostei-me ao muro novamente e esperei ele chegar ao seu destino. Bem, vou descer ate La. Com uma coragem de menina em busca da pessoa que mais lhe compreendia.
Pois cantava tudo que sentia, me agarrei àqueles cadernos e desci ate o bar da esquina da rua tiete, me deparando com ele, olhei simplesmente, Raul me olhou e perguntou na maior simplicidade, o que lhe era peculiar você quer autografo? Não? Na verdade nem pensava nisso e me lembrei que ele detestava autógrafo, Num ato abrupto, o primeiro que me veio à cabeça, taquei aqueles cadernos tomados da raiva que sentia deles e joguei os no balcão.
Foi uma resposta simples: _ não só gostaria de conversar com você, e na mesma simplicidade Raul então pediu ao garçom outro copo e agora eu estava lá, frente a frente com Raul Seixas com todas as indagações que me acompanhava.
Olhei-o nos olhos e a primeira pergunta que ele me fez é se conhecia Alceu Valença. Respondi que sim. Desde essa hora já sentia que éramos amigos.
Ele encheu meu copo e me contou à turnê que havia feita com Alceu inteira, puxa ele estava extasiado com a pessoa de Alceu vi que precisava falar.
Fiquei ali ouvindo e isso durou horas. Sei que saímos daquele bar duas horas depois porque ele lembrara que Kika o esperava para almoçar.
Saímos juntos. Raul me olhava como se perguntasse, meu Deus de onde surgiu essa menina? Paramos na direção do meu prédio e ele me deu um adeus meio chateado e perguntou se morava ali. Sempre cabisbaixo.
Disse que sim. Que agora éramos vizinhos. ele parou.me olhou nos olhos, sei que falou com aquele gesto. Mas só depois saberia que o que queria dizer é que nos veríamos novamente.
No começo não tinha certeza que estava nascendo uma amizade, mas senti que tudo foi como se Raul já havia me conhecido faz tempo. Percebi isso em seus gestos no jeito de falar comigo, parecia que ele sabia que pra mim ele não era nada estranho.
Acompanhei sua ida até a Alameda Franca com o olhar até ele sumir e fiquei mais meia hora mais ou menos meio anestesiada, mas com uma sensação muito boa, como se tivesse conversado com um amigo.
Aquilo pra mim estava valendo muito. Não decididamente era um ser humano. Não devia comentar muito, nem correr atrás dele, pedir autografo ou então pedir pra tirarmos fotos.
Esse dia ouvi tudo que tinha dele e senti o quanto realmente aquelas musicas eram parecidas com a pessoa que conheci.
Capitulo 3
Estava claro para mim que meu amigo Miguel mal sabia que a musica eu sou egoísta teria um desfecho nas perguntas que todos fazemos sobre a existência e tanta coisa,
Minha irmã mais nova Gisele acompanhava minhas idiossincrasias sem ao menos entender que o que buscava era simplesmente um porque de estar viva.
Ter que assumir posições que nunca tinha escolhido, e sociedade alternativa falava metaforicamente em tomar banho de chapéu. Então vá realmente o que ela queria dizer era que você podia discutir Carlos Gardel se quisesse ou ate esperar papai Noel não éramos pessoas presas, sem expressão e não havia maldade.
Já éramos muito reprimidos pela sociedade capitalista e Raul melhor do que ninguém sabia falar sobre isso nos dando a visão de que deveríamos lutar.
Era definitivamente o que pensava, mas a falta de ter com quem falar sobre isso me fazia escrever.
Por volta dos quinze anos já possuía cadernos de poesias que atormentavam minha família, isso me fazia me sentir cada vez mais afastada de todos.
Raul mudaria para lá, morava na rua bela Cintra e ele mudaria para Alameda Franca então sempre com as musicas dele falando aos meus instintos de busca decidi deixar para ele a mensagem que havia me libertado peguei um spray e decididamente pichei sociedade alternativa no muro da onde ele morava, sem imaginar o bem que tinha lhe feito o que foi me dito por ele próprio pouco tempo depois.
Lembro que depois desse ato corri pra casa tão satisfeita por ter certeza que lhe fiz bem, Só muito depois iria entender que minha ligação com Raul era mais espiritual do que eu pensava.
Eu fazia em 1982 supletivo no colégio, ele sempre vinha para casa ao meio dia eu e minhas poesias, meus cinco amigos, as musicas do Raul e nada mais.
Sabia que na verdade aquelas musicas eram para ele poder se comunicar, pois já havia lido muito que por ele próprio não seria musico e sim escritor ou ator, ele dizia que fingia que cantava e todo mundo acreditava.
Era um ator definitivamente!Mas foi o caminho que conseguira para veicular o que precisava dizer.
Tinha uma preocupação incrível com o ser humano e eu já me sentia adotada sem saber ao menos que realmente seria.
Bem demorou um pouco e continuava escrevendo até que no meio do ano de 1982 vinha do supletivo e senti alguma coisa muito estranha, não adiantaria tentar explicar aqui com palavras, por que não conseguiria importante citar que cresci no Kardec sismo com meu pai.
Mas naquele tempo tinha duvidas em relação a almas que já se conhecem e retornariam a se encontrar e todas essas coisas. E nesse dia que senti um arrepio vi Raul descendo do outro lado da rua para o bar da tiete, Paralisei ali mesmo, ali estavam minhas respostas, ali estavam às mesmas perguntas.
Ali estava uma busca em comum, mas era dotada de um medo surpreendente e não consegui ao menos balbuciar uma palavra naquele dia a única coisa que queria era ficar acompanhando com o olhar e entender porque aquele ser me envolvia tanto.
Acompanhei Raul com o olhar ate ele chegar ao seu destino, e subi tremendo para casa Gisele me olhara preocupada, mas eu lhe disse que acabara de ver Raul. Sem dizer mais nada quis ouvir guita, Gisele com sua curiosidade de irmã mais nova e já conhecendo minhas peripécias de menina hiperativa não parava de me fazer perguntas.
Mas tudo que eu queria era ouvir guita. Às vezes você me pergunta por que eu sou tão calado, não falo de amor quase nada nem fica sorrindo ao seu lado, Guita significa o canto, ou seja, a canção, e a letra iam me respondendo mais e mais.
Capitulo 4
É estou eu aqui escrevendo perto de fazer 20 anos que Raul pegou seu disco voador. Ele e seu mundo subjetivo preciso citar os quatro amigos que paralelamente faziam parte dessas historia.
Eles estavam tão presentes em minha vida. Minha irmã Gisele, corujinha, Miguel e Rafinha que divide comigo a única imagem que tenho com Raul, mas isso viria depois de muitos encontros me lembro quê a cada conversa com Raul a noite dividia com eles tudo que nós havíamos conversado.
Nostalgia, aqueles olhos brilhando me ouvindo com uma atenção profunda. Minha mãe era vitima do machismo em vigor, tinha que trabalhar muito, vitima de um sistema que anula a arte em prol da escravidão.
Voltando a 1982 chegando mais uma vez no mesmo bar, senti que já estava sendo esperada e foi ai que soube do aconchego que minha pichação no prédio envolveu Raul seixas puxa, era boas vindas mesmo, ele me falou: sabe que só fui bem recebido aqui em são Paulo?
São Paulo foi à cidade que melhor me acolheu, poxa quando cheguei dei de cara com sociedade alternativa pichado no muro do prédio dei um sorrisinho, ele me olhou surpreso, disse que fui eu que tinha que recebê-lo, que de alguma forma já lhe esperava, disse não sabia se ele entendia o que queria dizer, ai se deu um pacto.
Ele me agradeceu muito e senti sua fragilidade que com o tempo tornara-se peculiar. Foi nesse dia que descobri que a musica do trem foi feita para o signo de aquário e como aquariana fiquei lisonjeada aquela musica era linda, parecia aos meus ouvidos uma oração, Raul me disse que tinha feito aquela musica para a nova era, ou seja, novo Aeon e para os escolhidos que para ele eram os do signo de aquário, os que iam pegar esse trem.
Hoje o meu conhecimento sobre tudo isso foi em cima de muito estudo. Ele havia lido a bíblia muitas vezes e me contava que Jesus estava em todas as suas musicas. Hoje enxergo sua plasticidade profunda em sua busca.
Ficávamos conversando sempre até ele lembrar que a sua esposa kika o estava esperando sabia da formação do fã clube do Raul, mas não era mesmo isso que eu queria nunca vim a ser sócia do fã clube, Raul nunca me falara nada a respeito e senti que aquele momento era separado do resto dos acontecimentos de nossas vidas como posso eu hoje explicar?
Eram duas ou três horas nossas. Onde Raul se abria cada vez mais e falava sem parar. Eu ia absolvendo. Nunca me falou sobre Crowley. Falava muito sobre suas ex-mulheres e filhas. As quais lamentavam não poder ver. Nunca citava nomes de ninguém sinceramente éramos um divã um para o outro.
Capitulo 5
Estava bem com meus dias passando assim. Estávamos num estudo da bíblia e suas musicas e ele se lembrava de todas as associações.
Eu prestava muita atenção, pois diziam que Raul não tinha Deus. Não definitivamente isso era uma mentira.
Cada musica dele se referia a uma passagem bíblica como eclesiastes, deuteronômios, me lembra da letra de Judas onde os dois achavam a mesma coisa, que se era Judas que tinha que dar um beijo de traição, isso era uma missão de Judas, e ele não deveria ter sido condenado e sim perdoado por Deus.
Cumprira com uma parte difícil. Disse a ele que não gostava de ouvir que o diabo era o pai do rock, Sabem a resposta dele? Nem eu. Mas ele se arriscava, falava do bem e do mal.
Hoje entendo perfeitamente que o bem e o mal andavam juntos. Precisava agora saber das outras horas da sua vida. Comecei a ir ao apartamento onde ele morava, mas lá não ia sozinha sempre pedia ao Miguel, Corujinha, Goya, e Rafael para ir comigo.
Kika seixas sempre atendia a porta e vivi ficava com seus dois aninhos pulando para que nos entrássemos, mas a casa era um silencio só, ele sempre estava dormindo. Ai fixava os olhos na sala enquanto kika conversava com meus amigos e ficava tentando tirar o Maximo de informações naquela sala, via muitas imagens de Raul pela parede, e parecia tudo normal.
Só que sentia sua essência flutuando por ali. Saquei com o tempo que depois que conversávamos, ele subia, e dormia. É Deus é o que me falta para compreender aquilo que não compreendo.
Era a falta de conversar com Deus diretamente. Levante suas mãos sedentas e recomece a andar. Ali estava deus. Eu também me interrogava por que Deus não falava comigo como a bíblia cita que falava com os discípulos? E o que nos restava então.
Ouvia musicas do Raul que eram verdadeiras orações como ave Maria da rua e a fonte, entre tantas. Os anos 80. Charrete que perdeu o condutor. Na verdade éramos seres numa intensa ansiedade por igualdade.
Volta e meia falava de suas filhas que era proibido de ver. As pessoas associavam Raul ao álcool, sem se perguntar por que ele era gentil.
Ninguém entrava dentro dele. As musicas estouravam e parecia isso que interessava. Mas tinha que ser na pessoa mesmo. Era o que todo mundo sentia em anos tão conturbados.
Capitulo 6
Segundo ele maluco beleza era uma musica feita para malucos sem drogas e todos entendiam ao contrario.
Todo mundo ta feliz aqui na terra. É isso me fez decididamente largar o cursinho de jornalismo e começar a fazer oficinas abertas com José Celso.
Sei que era uma ironia, mas era o melhor predicado dele, ironia. Mas tinha que ser feliz aqui na terra e o teatro me abrira novos horizontes e fui percebendo o lado performático que usava em tudo e pra tudo.
Lembro do show na praia do Gonzaga, ele usava mesmo um personagem, encarnava as musica do ponto em comum é que pra nós dois o difícil era encarnarmos nós mesmos.
A pergunta sempre foi quem seríamos nós para quê e por quê? Ele saíra de Nero cantando maluco beleza pelas ruas, segundo ele maluco beleza era uma musica feita para malucos sem drogas e todos entendiam ao contrario.
É fato que lutou contra isso, mas a fascinação por ciências oculta e maior ainda por discos voadores, tinham o levado a o encontro com Paulo coelho, o qual o introduziu em estudos do ocultismo os quais com amor e com medo, não largaria.
Foi fácil para as outras pessoas criarem um rotulo. Raul Seixas fazia parte de seitas satânicas era adepto de crowley o que sei que fazia parte da busca, do interior ansioso pelos mistérios, afinal ao menos os mistérios podiam talvez responder.
O maior parceiro de Raul, Cláudio Roberto, também sabe bem disso. Hoje quando vejo jovens usar a musica maluco beleza para fazer apologia a drogas sinto a mais profunda indignação, mas, Raul Seixas não esta mais aqui para falar.
Vocês ai eu vou-me embora apostando em vocês. No testamento deixo minha lucidez, de formar o que Raul deixou tão claro é difícil, o fácil é pegar a figura de Raul Seixas como muleta para atitudes próprias.
Voltando à questão da performance, hoje acho uma pena não ter seguido a carreira de ator, o show da praia do Gonzaga foi longo, e cada musica continha um personagem, acho que por isso arrumou tantos seguidores.
Isso o incomodava muito, como o próprio dizia não era guru de ninguém houve uma entrevista com Raul tamanha à proporção que isso estava tomando, e o repórter perguntou e o que você prega? E Raul munido de ironia respondeu pregos e muito mal pregados.
E era Al Capone, ele era o cowboy, ele fora para Anarkilópolis. Assim Raul se divertia, vivia cada personagem de suas musicas consciente de cada recado que queria dar em cada musica isso ele dominava muito bem.
Um personagem Raul de verdade, o ser humano Raul Seixas poucos conheciam ele era um sátiro, mas muito triste e inconformado com sua existência, definitivamente nascera para cutucar com a finalidade de mudar as coisas Que o indignavam tanto.
Por que você faz isso? Por quê? Detestava o patrão no emprego sem ver que o patrão sempre esteve em você e dorme com a esposa com quem já não sente amor, porque você faz isso? Por quê? Dei-me conta de uma identificação muito forte.
A raiva da farsa que as pessoas nem percebem que estão vivendo. Eu nunca agüentaria tanto fingimento e também encontrava em varias musicas Raul lutando por isso. Não faça isso com você.
Créditos:
Imagens selecionadas no Google.
Texto de: Maria Nívea
Produção e editorial: Claudio Deno
denocruz@uol.com.br
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Raul Seixas
Raul dos Santos Seixas nasceu em Salvador BA em 28 de Junho de 1945. Sua grande influência foi o rock-and-roll da década de 1950, que ouviu muito nos discos emprestados pelos vizinhos, funcionários do consulado norte-americano em Salvador. Aos 12 anos fundou o conjunto The Panthers (mais tarde Os Panteras), primeiro grupo de rock de Salvador a usar instrumentos elétricos, passando a tocar em cidades do interior baiano. Começou a estudar direito, mas abandonou o curso para se dedicar a música. Em 1967, Jerry Adriani apresentou-se ao vivo em Salvador, acompanhado pelos Panteras, e se entusiasmou com o grupo, convencendo-os a se mudarem para o Rio de Janeiro RJ, onde gravaram pela Odeon (mais tarde EMI) seu primeiro disco LP, Raulzito e os Panteras. De 1968 a 1972 trabalhou como produtor da CBS. Produziu e lançou, em 1971, o LP Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta sessão das dez, com músicas de sua autoria e em parceria com Sérgio Sampaio, tendo ambos como interpretes ao lado de Míriam Batucada e Edy Star. Apresentou-se no VII FIC (transmitido pela TV Globo) em 1972, com duas músicas, Let Me Sing, Let Me Sing e Eu sou eu, Nicuri e o diabo. Contratado em 1972 pela Philips, gravou o LP Os 24 grandes sucessos da era do rock, no qual aparecia creditado apenas como produtor e arranjador (em 1975, com Raul já famoso, este LP seria relançado com seu nome e novo título, 20 anos de rock). Seu primeiro grande sucesso como interprete foi Ouro de tolo, em 1973, incluída em seu primeiro LP solo Krig-há, Bandolo!, do mesmo ano e que incluiu outros êxitos, como Metamorfose ambulante, Mosca na sopa e Al Capone (com Paulo Coelho). Seu sucesso se consolidou com os três LPs seguintes, Gîtâ (1974), Novo aeon (1975) e Há dez mil anos atras (1976). Mudando-se em 1977 para a Warner (que inaugurava sua filial brasileira), gravou três LPs: O dia em que a terra parou (1977), que inclui Maluco beleza (com Cláudio Roberto), que se tornaria um hino da geração hippie, Mata virgem (1978) e Por quem os sinos dobram (1979). Apesar de crescentes problemas de saúde e varias trocas de gravadoras, manteve o prestigio e o sucesso em quase todos seus LPs seguintes: Abre-te sésamo (CBS, 1980), Raul Seixas (incluindo sucessos como Capim-guiné, com Wilson Ângelo, e Carimbador maluco, este incluído no musical infantil Plunct, Plact, Zumm, da Rede Globo, Eldorado, 1983), Metrô linha 743 (Som Livre, 1984), Uah-bap-lu-bap-lah-bdim-bum! (Copacabana, 1987), A pedra do Gênesis (Copacabana, 1988) e A panela do Diabo (em dupla com Marcelo Nova, um de seus maiores discípulos e líder do Camisa de Vênus; Warner, 1989). Seus outros sucessos incluem Como vovó já dizia (com Paulo Coelho, 1975), Rock das "aranha" (1980) e Cowboy fora-da-lei (1987). Com público dos maiores e mais fiéis, foi o primeiro artista brasileiro a ter um LP organizado e lançado por um fã-clube, a coletânea de gravações raras Let Me Sing my Rock-and-roll (1985, mais tarde encampada pela Polygram com titulo Caroço de manga), e mesmo após sua morte continua exercendo influência, com músicas regravadas por artistas tão diversos quanto Caetano Veloso (Ouro de tolo), Irmãs Galvão (Tente outra vez), Margareth Meneses (Mosca na sopa), Deborah Blando (A maçã) e o grupo RPM (Gîtâ). Em 1995, varias homenagens marcaram seu aniversário – faria 50 anos. Foram lançados um livro, O trem das sete, Editora Nova Sampa, e um CD, Sociedade Grã-Kavernista apresenta sessão das dez, reedição do LP de 1971. Morreu em São Paulo em L21 de Agosto de 1989.
Biografia: Enciclopédia da Música Brasileira
Ouro de Tolo
Raul Seixas
Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros
Por mês...
Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso
Na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar
Um Corcel 73...
Eu devia estar alegre
E satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado
Fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa...
Ah!Eu devia estar sorrindo
E orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa...
Eu devia estar contente
Por ter conseguido
Tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado...
Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto "e daí?"
Eu tenho uma porção
De coisas grandes prá conquistar
E eu não posso ficar aí parado...
Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Prá ir com a família
No Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos...
Ah!
Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro
Jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco...
É você olhar no espelho
Se sentir
Um grandessíssimo idiota
Saber que é humano
Ridículo, limitado
Que só usa dez por cento
De sua cabeça animal...
E você ainda acredita
Que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo
Com sua parte
Para o nosso belo
Quadro social...
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...
Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...
Ah!Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...
Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...
2 Comentários:
Minha linda Dora obrigado, agradeça a Escritora Maria Nívea, tão bela cronica vivencial...
Ela me fez viajar em reminiscências pelas idas e vindas de cruzar com Raul Seixas(sem coragem de interpelar meu ídolo nas suas andanças, se soubesse que ele não era um "Deus" teria o interpelado e trocar figurinhas... rsrsrs) na Frei Caneca com a Antonio Carlos, onde morei na década de 80(morei no prédio da esquina da A.Carlos com Augusta!
Saber...lembrar de seus shows pela zona central e oeste, seu show no Gonzaga magnífico,um show no Palmeiras...
Com esta crônica viajei quando ela coloca delalhes de poemas dele que, tipo Maluco beleza, pois sempre senti que esta musica era para os "caretas"(como eu que nunca consumi drogas), mas sempre estive neste meio curtindo adoidado.
No Trem das Sete, quebrou minhas pernas, pois sempre achava que era a partida(retorno)do corpo material para o mundo espiritual, mas mesmo assim vou continuar curtindo meu sonho de partida.
Mas, a musica dele marcante nos meus ultimo cinco anos foi Tente outravez! Que me foi oferecido por minha mãe, irmãos e amigos, na minha recuperação de um enfarto do miocardio em 2004, e que trago no coração...
Obrigado novamente por esta linda lembrança!
Por Anônimo, Ã s 12:19 AM
Obrigado Eduardo Felipe
sua gentileza e seu carinho envolvendo o Raul é comovente
e sensibiliza aqueles que o conheciam de forma mais
próxima, um abraço Dora
Por Dora Dimolitsas , Ã s 2:32 AM
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